Sempre
precisei de um pouco de atenção, mas quem nunca precisou de um pouco de
demasias, de afeto, carinho, afago e um trago qualquer? Quem nunca procurou e
não encontrou as respostas das perguntas erradas, ou as entranhas de
questionários falhos?
Acho que não
sei quem sou só sei do que não gosto, do que me atrai, do que repilo, de tudo o
que me faz mal nesta sociedade hodierna, contemporânea e segas. Assim,
destrutiva por natureza, por flores mortas, por sóis azuis ou por nuvens cinza...
Quem nunca esteve perdido em sua identidade amarelada e corroída, se não por
cupins e ácaros, por vergonhas e ascos?
E nesses
dias tão estranhos, destes que fica a poeira se escondendo pelos cantos, destes
que procuramos usar uma máscara para nós mesmos. Nestes dias em que vagamos
entre pensamentos retraídos, àqueles escondidos entre as chaves perdidas. Nas
gavetas da memória. Esse é o nosso mundo vazio.
O que é demais nunca é o bastante para satisfazer nossas gulas, nossos
vícios, nossos preceitos e conceitos. Perdidos em mazelas procuramos ser um
protótipo genioso de homem viril e tenaz. Porém não passamos de hipócritas
colecionadores de romances falidos em calhas enferrujadas. E a primeira vez é
sempre a última chance, mesmo de sermos àquele inocente ser a procura de tudo o
que queremos e não conseguimos por falhas de sistemas complexos e
medievais. Ninguém vê onde chegamos, ou
de onde partimos.
Voltamos a
viver como há dez anos atrás aguardando o holocausto que não virá. Ele nunca
vem. Acreditamos na hipocrisia do fim, mas por que? Para termos a esperança de
um novo começo? A esperança de uma vida melhor? Ou, a falha esperança, de
sermos acolhidos e reconhecidos pelo sistema biométrico degradante desta
sentimentalidade tosca e barata que compramos em revistas e folhetins
vendáveis. Àqueles, que doamos aos menos cultos e letrados. Como se fosse esmola
cultural. Como se precisassem de esmolas sentimentais, culturais ou outros ais
qualquer.
Quando me vi
tendo de viver neste capitalismo hipócrita, nesta adúltera fase de crescimento falho,
me vi só, comigo apenas e com o mundo aí você me veio como um sonho bom. E me
assustei. Não sou perfeito, tão pouco queria ser, eu apenas não esqueço da
riqueza que tivemos, mas ninguém consegue perceber... E de pensar nisso tudo eu,
homem feito, tive medo e não consegui dormir.
Enfim, vamos
lá. Tudo bem. Eu só quero um lugar legal pra ir, para esquecermos os alvos, as
artilharias, e esquecer dessa gente, deste mundo mundano e imundo; deste
sistema falho, com escovas dentadas de moralidades construídas em bases gelatinosas.
E a sentimentalidade prozaquiana está retida em outros cantos e métricas, talvez
em músicas urbanas ou sentimentalóides mesquinhos a procura de outras métricas
vorazes acalentadoras de hipócritas metidos a filósofos, e filósofos
infiltrados em discursos baratos como este.
Com tudo ,
eu só quero um lugar legal pra ir, onde eu possa entregar o meu alvo e minha
artilharia, onde eu seja refém e prisioneiro, mesmo que de ASKABAN ou um outro
inferno de Dante. Onde eu possa sentir minhas secreções, maquiar minhas emoções
e fingir ser o homem adulto, capaz e inabalável. Mas hoje, somente hoje, eu
quero ser fraco o bastante para respirar sem máscaras, ser adulto o suficiente
para compreender minha insignificância. Para compreender que sou humano e que
erro, e que mesmo errando eu serei uma peça fundamental nesta engrenagem viril,
mesmo eu sendo frágil; mesmo eu sendo ingênuo e incrédulo.
A CASA DO CAMPO
Sabe aquele momento em que você, realmente, acredita ser superior a tudo e a todos, onde seu regionalismo - fútil - formador de uma personalidade "insólita" não quer dizer absolutamente nada?
Pois é! Elis Regina já cantava em pura proza - "eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rock´s rurais" - a proeza e sapiência destes recantos surpreendentes. Destes afagos "sociais" merecedores, ou não, de nossas órbitas, mas que por mim, agora nu e exposto à sentimentalismos baratos e infundados à mercês da "paixonite tola e voraz", retoricamente a cito em meus gritos melancólicos acoados em uma ressonância qualquer... E assim, como Elis Regina, eu ressalvo: "Eu quero o silêncio das línguas cansadas, eu quero a esperança de óculos e meu filho de cuca legal", como se não bastasse, digo mais: "Eu quero uma casa no campo do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé, onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros; e nada mais".
Eu acrescentaria - minha refutável argumentação perante tamanha sabedoria e genialidade de Elis - os seguintes dizeres:
Eu quero uma casa no campo, com o amor ideal, aconchego e um por quê? Eu quero uma casa no campo, com aroma de amora e romã. Eu quero uma casa no campo, onde eu possa envelhecer, amar e sonhar... Eu quero a salobra em versos e prozas... Uma estante repleta e uma xícara a mais... Eu quero o tédio do verbo e a discordância da paz...
Porém, enfim e todavia, minha insignificância poética não permite recordar-me da métrica contida e, aqui, retida de Elis, mas deixo minha memorável necessidade e, afirmo, anseio de TE TER, E TER UMA CASA NO CAMPO...
As casas de campo, nos revelam tantas coisas... Nos remetem aos tempos de nossos avós... De nossas traquinagens... De nossos amores escondidos... De nossos segredos não revelados... De nossa mais profunda sentimentalidade verdadeira, não àquelas compradas em lojas de departamentos, digo às verdadeiras emoções, as mais profundas, as mais intensas, as mais significativas... Em uma casa no campo... Do tamanho ideal...
DIAS FRIOS
20h28min. – há exatamente duas horas – de um dia frio... O
clima lá fora é mais denso que todo o gelo ártico que há em sua calota e aqui
dentro, tudo não se passa de momentos estáticos frente a este relógio que custa
a completar seu ciclo... As horas não passam, o dia não flui e tudo parece
confuso e nostálgico.
A grandiosidade da mínima existência faz com que pensamos em
momentos felizes – por isso odeio esses dias sombrios – mas não felizes em sua
essência, felizes por momentos felizes, felizes por miragens boas,
constantemente instáveis, felizes no sentido contraditório de sua síntese. E
assim, como um fosco deslumbre entre o complexo paradoxo de nós frente a nós,
eis que surge a rítmica voltagem entre o amar e o desapegar, exatamente assim,
neste frenético ritmo compassado da emoção versus razão.
Estes dias sem luz, nos faz crermos em momentos
desagradáveis, em momentos rudes e desgastantes, como o término de namoros não
fundados, de relacionamentos mal explicados e de felicidades mal
compreendidas... Estes dias chatos deveriam ser catalogados em um calendário
atípico talvez classificado como “O CALENDÁRIO VIENENSE” – sim, alguém já viu
um canto feliz em Viena? Alguma história de amor que seguiu o roteiro das
histórias de amor e que acabara em FELIZES PARA SEMPRE?
Não???
Então, chega-se a conclusão que estes dias vienenses
poderiam, sem cerca de dúvidas, estarem catalogados em “um dia para se pensar”,
para que se pense em tudo o que não foi feito, tudo o que não foi dito, tudo o
que não foi sugerido, e por fim, em tudo o que deixamos de nos apegar... Por
horas penso em várias constâncias inertes, como a paixão, o frisson, o tânato,
o cônjuje, o salubre e até mesmo a inconstância inerte do amanhecer.
Estarmos vivenciando um dia assim é mais que se apegar ao
materialismo barato, e mais singelo que o abstrativismo falido de telas
infantis; estarmos nostálgicos é uma reflexão de botequins que baila por tragos
baratos de misturas quentes... Estarmos vivenciando estes dias, é uma dádiva, é
um balbuciar de vida, é um sopro de Deus frente a nós mesmos, frente aos nossos
medos, receios, pecados e malícias, é um ato de pensar e refletir, por mais que
nos doa, por mais que nos afugente da canção melancólica de final feliz, é
exatamente assim que devemos o ter. Com calma, perseverança e reflexão. Caso
isso não ajude... Adiante o relógio, tudo irá acabar mais cedo ou mais tarde,
então porque nos prendermos a esta metafísica toda?
DE CASO COM O ACASO
A cotidianidade dos fatos
embalsamam as realidade da compaixão vivida entre duas pessoas. A retórica
flexibilidade do estado inexorável da paixão reúne a profissionalização
sentimental do preâmbulo amoroso.
Assim se inicia o trajeto sem fim
de um ícone moralmente falido frente a neurose amorosa. Desde muito jovem, na
beira de sua terceira jovialidade, Carrasco apaixonara-se por frescos e
frescores não assimilados aos jargões estéticos de uma prateleira iluminada,
buscara, em outrora a disritmia artística das pinceladas melancólicas de
artistas metódicos, frios e disléxicos. Agora, buscara para sua, pequena e
imponente coleção de afrescos, um arcanjo barroco, provido de esculturas
barrocas, feitas em arbustos silvestres, frescos e virgens. Onde encontrar este
seu artefato? Como tratar um rústico cipreste agraciado com dotes artísticos?
Com a frieza do escultor? Com o tato do lenhador? Ou com a compaixão do
Comprador? Inquietações malucas de um eco salubre entre ser, ter e conter.
A inversa compreensão de contexto
faz-me dar início ao desfrute pelo conter...
Diante de um paradoxo entre ter,
ser e conter, contêm-se com uma miragem sobreposta em abajures ofuscantes de
cabeceiras desalmadas em camas vazias. E como toda história de desilusão possui
um início gracioso, harmonioso e repleto de sentimentalidades, vamos inverter
ordens e começar pela realidade. Pois os fins justificam os meios, quem sabe,
podemos compreender o início deste desolamento semanal.
Em um canto qualquer de uma
localização precisa medida em escalas longitudinais, encontram-se dois corações
partidos pela inconstância sentimentalidade magoada de um passado duro e
sombrio. De um lado, Carrasco, com sua sede e gana por amor, por complexidade,
por desbravar o inconstante prisma rumo ao pote de ouro. Agora, largado, como
uma criança sem brinquedo em um parque alagado pelo temporal de verão, que por
hora, não atrai, não encanta e recanta poesia e luz, mas sim, projeta as
sombras malditas de arbustos secos sem valor procura por ruelas estreitas a
expansão de seu coração, procurando suvenires rústicos, frágeis, e com
histórias – destas que nos fazem sentar e bestificarmos com seu valor
geológico. E encontrou.
Lua cheia que brilha sobre o
negro véu da solidão, faz com que Beinjamin Carrasco baixe sua guarda em um
rumo sombrio, desbravando caminhos conhecidos de ida e volta de um lugar a
lugar algum. Surpreendido pelos pensamentos perplexos que contradizem a
reviravolta momentânea, faz um suspiro
surgir de frente à São Jorge, que descera de seu dragão para cruzar sua
realidade e manchá-la com o sangue da paixão. Assim, como em um soluço virginal
Beinjamin vê-se de frente com a sensação de vazio, medo e pavor. A realidade
ofuscara sua imaginação e sua busca, tornando o velho caminho em um trajeto sem
fim, imaginável e dolorosamente assustador. Lembrou então de dias calmos, porém
a névoa que se fez em seus olhos – de lágrimas entristecidas e apaixonantes –
afasta a única esperança de compaixão, tornando-o perdido e desprotegido frente
ao cenário.
Constância, sua palavra de ânimo,
agora faltava-lhe, seu destino tornara-se um ponto minúsculo frente ao seu
cotidiano. Decidira-se sentar, descansar – talvez – ou apenas apreciar a lua
que se impõe frete ao céu infinito, porém as lágrimas que faziam nevoeiros
caíram em pleno pó, tornando-o um ser frágil, tornando-o em nada, em pó.
Carrasco, 1,75, olhos azuis, estrutura robusta, ar meticuloso e de expressão
filosofal, fez-se agora não compreendido frente suas certezas, a intelectualidade
toda, não fora necessário para calar a sentimentalidade e o desconhecido
desbravou as estruturas de um pobre vagabundo social que busca a compreensão de
sua fragilidade.
Soluços de um macho historiador,
pesquisador e desbravador ecoam pela ruela fria e realista, fazendo com que do
outro lado do vilarejo Rosa sinta seu vazio e seu desespero. Ela, argilosa,
fria e de coração machucado, fez-se portadora da cura sombria dos esmos de
Carrasco, porém negara, de forma assustadora que a noite calava-se frente ela.
Rosa Abrão, mulher trabalhadora,
simples, sem conhecimentos sofisticados de arte, literatura ou requinte, apenas
uma mulher madura, completa e humana.
Carrasco sempre foi crente de que
a sofisticação e o catolicismo dogmático dos bancos escolares, proporcionara
nele efeitos colaterais irreversíveis, exatamente como as virgens puras, que
abandonadas tornaram-se pregadoras comunais da palavra do Senhor, porém,
portadoras da beleza e sensualidade ofuscadas pelas vestimentas, usam a palavra
para seduzir, porém o que é virginal – de consumo – esconde-se através de
cúpulas instransponíveis. Assim encontrava-se seus sentimentos.
Instransponíveis.
Rosa, balbuciando seus afazeres,
nada, domésticos, por hora tecia seus dotes sexuais colecionando jovens colecionadores
de salivas ácidas. Suas vestimentas, socialmente atraentes, faziam até mesmo o
mais rude dos Vikings estenderem rosas em seu caminho, porém ao seu Carrasco,
nada transpunha, nem mesmo seu escarro. Assim em uma dança comunal entre céu e
inferno, latentes e espaçadas trocas de afeto faziam a esperança crescer em
seus corações, porém a daga sanguinária cortara a sensibilidade de Rosa, como
os cachos de Abel.
Deitada em um canto salubre de
sua cama, ricocheteava olhares, tensos, sobre cartas recebidas, por hora
espalhadas sobre seu criado, iluminadas por focos obscuros de uma iluminação
fúnebre e tênue, tensa e malcuminada com seu desejo, infinito, de vigança.
Antes, em outras primaveras, Rosa
definia-se como seu nome, cheirosa, sofisticada, atraente e pecaminosa, porém,
após sua última poda os espinhos arranharam suas pétalas e seu cheiro ficou
amargo, rancoroso e rude. Fora Philip quem a tornara fria, um jovem rapaz,
alto, moreno e sensual, exatamente como os protótipos e arquétipos de beleza propõe,
um lindo rapaz a procura de uma próxima cama quente. Ingênua e nada atenciosa
aos caminhos do coração, Rosa deitara com Philip e acreditara em suas juras
infundadas de amor e paz, porém, seu coração ferido a fez de vítima para uma
prece comunal, que como o coro, acabara no Amém.
Após conhecer a falsa felicidade
e acreditar em promessas insólitas, Rosa decidira fechar seu coração para as
sentimentalidades obscuras de jovens vorazes, procurando agora, repousar seu
manto sobre a virgindade e fechar-se para a cotidianidade. Assim, como em um
soluço tenso, prestes a ganhar vida, porém, lacrimejado pela dor, sucumbira seu
desejo dentro de seu eu e não o deixara ganhar forma, tão pouco cor e cheiro.
Triste, Rosa sente-se amarga, impossibilitada de amar ou ser amada, ainda
machucada, nega-lhe o que há de mais belo e saboroso, o amor de Carrasco.
Ele, sofisticado e ardiloso
aguarda seu amor renascer, mesmo que fagulhas brotarem, mas nada, de que faça
ou diga, faz com que o coração palpite novamente, tão pouco com seu nome dentro
dele.
Assim, perdido e desalmado sobre
o projétil de uma lâmpada fria, sofre, soluçando em prol deste amor que aflora
intensamente dentro de seu peito. Renegado, procura forças para exibir seu
carinho, sua atenção e seu afeto. Deixando assim, somente assim, seu rancor e
frieza tomarem conta de suas ações. Talvez, somente talvez, por medo, por
angústia e por pena, de Rosa, que sofrera em vão. A sapiência traz a paciência,
sua face calma e serena, horas se depara com o desespero e o sofrimento. Agora,
ali, frente a ele mesmo tornara impossível camuflar seus desejos, seus
profundos e verdadeiros desejos com o souvenir raro de sua coleção.
O doce salgado de suas lágrimas
umedeciam seus lábios e tornara seus olhos fixos no passado, em uma estação
atrás, que fora linda, que fora calma e repleta de amor. Antes, Rosa e Carrasco
vivera uma paixão ardente, repleta de aventuras e tentações, porém o tempo, o
maldito medidor de ilusões, os afastara por forças do destino e também por
ocasiões vexamatórias. Rosa lembrara de
seus beijos, lembrara de seu gosto, porém o que fazer, acreditar novamente no
sentimento ou afogá-lo em sua sanidade?
Ele, cansado de todos seus medos,
tentara protegê-la de si mesmo, tentando alertá-la sobre as armadilhas do destino,
sobre as preces puras e até mesmo sobre a liberdade de amar. Por mais árdua que
fosse, sua felicidade completava-se com a dela, tornando-o assim um descaso do
puro amor, um agente de sua solidão, um prisioneiro de sua paixão, fatos estes,
que não quebraram, nem quebrariam os conceitos de Rosa. Que convicta de seus
preceitos definira sua ações como Paz.
Esta mesma Paz que consola o
peito de Rosa é a tortura do peito de Carrasco, que sofre, grita e chora,
quieto, tortura-se com seus sorrisos e aflige-se com suas dúvidas. A dúvida de
ter Rosa mais uma vez em seus braços, de sentir seu sorriso maroto e, sobre
tudo, de torná-la viva novamente. Feliz. Assim como fora em outras estações.
BOOKCROSSING
A TORTURA DE UM PAI AMANTE DE SEUS FILHOS!
Libertar um livro velho já lido e não mais favorecido que os outros dispostos em sua prateleira é uma tarefa difícil... Quando decidi entrar nesta onda de Bookcrossing pensei o quão sofrido seria deixar minhas crianças jogadas pelas calçadas ou mesas alheias, desamparados do meu olhar cuidadoso e do aconchego de minha preciosa prateleira, mas enfim, lá fui eu decidido a libertar (na verdade a ME LIBERTAR), um de meus filhos para que outros possam conhecê-lo, degustá-lo e compartilhá-lo com outro alguém!
Munido de uma roupinha quente e aconchegante, durante um
feriado frio e seco, percorri algumas ruas da cidade a procura de alguns
ângulos incríveis (e até mesmo desconhecidos), para um clique legal, que viria
a ser o cartão postal de nosso município. Aproveitando a ocasião – andanças pelas
ruas pato-branquenses – decidi libertar meus livros; em um clima propício –
seco e frio, assim como estaria meu coração naquele momento de abandono
patrimonial (sou muito capitalista e consumista compulsuvo); e montado na
coragem desbravei ruas, locais e situações.
Quando se é um consumidor compulsivo, amante de suas
compras, coleciona-se muitas quincalharias que com o tempo vão se acumulando
pelos cantos de seu quarto e uma faxina – muito organizada e metódica – se faz
necessária, agora, se desfazer de meus livrinhos queridos... Foi uma situação desesperadora
para mim, por tanto, a escolha de um novo abrigo, mesmo que temporário foi uma
tarefa difícil... Visitei diversos “abrigos”, encontrei diversos obstáculos e consegui me
desapropriar – literalmente – quando encontrei um cantinho aconchegante, afável
e quentinho... Dois Cafés nossos de cada dia!
O Retorno 2 |
O Retrato da Paz |
E assim foram meus primeiros filhos a ganharem o mundo...
Espero encontrá-los vivos e bem lidos por mãos acolhedoras e sedentas de
conhecimento. Esta semana pequei, não libertei nenhum de meus filhotes, que
agora olham em minha direção cobiçando às ruas, outras mãos, outras
prateleiras, outros acolhedores e amantes da leitura. Devo libertar um ou dois
de meus pupilos ainda amanhã (virei o monitor para que eles não saibam, não
quero criar falsas esperanças para os que ficam), mas já sei que a decisão será
difícil, porém sei que por trás de mais uma “libertação” terei mais uma estória
para contar...
NOITE FRIA
Uma hora da manhã... Fico aqui paralisado frente a esta tela fria e estática a procura de um sorriso amigo e ombro quente para acalentar meu sofrimento, minhas angústias e minha solidão... Fico aqui esperando a vontade de sumir chegar, mas a ânsia do retorno, seu frente a mim, é tamanha que a inércia toma conta de meu corpo e o único movimento retilíneo uniformemente descompassado é a ansiedade do pulsar de meu coração que aguar seu piscar em meu MSN... Aguardo as horas voarem para meus olhos irem em direção de seu corpo e estagnarem nosso sexo ainda não feito... Nossa estática ainda não consumada... Nossos palavrões ainda não ditos... Fico aqui no anseio de ter anseio de você... Hoje eu procuro seu talo e encontro seu repulso... Hoje procuro seu colo e encontro seu receio... Hoje procurei você e encontrei o K2 frente a mim... Tive medo, chorei, procurei as feridas de meu corpo para servirem de apoio emocional, mas encontrei somente o pus sentimental que você deixou em seu lugar... Fico com a esperança de te ver em dias melhores... Com dores menores e prazeres maiores... Fico com a esperança de ter você em lençóis limpos, transparentes e suados com nosso prazer... Fico na esperança de ter a esperança de te achar... Te encontrar... Te abraçar... E por fim de tudo... Te amar!!!
TORTURA SOCIAL
Vivenciando uma manhã deprimentemente avassaladora... Seria ruim somente pelo fato de estar em uma recepção de um consultório odontológico, mas para minha mais profunda sorte o mesmo localiza-se ao lado de um posto de lavagem automotiva, em pleno centro... Divagando entre as noticias atuais da década de 90 – nada melhor do que acompanhar os últimos fatos esquecidos na última década – sou embalado por uma nostálgica canção que retrata os tempos remotos da comunicação falada. Creio eu, se minha memória não falha, este “hit” foi pico de sucesso na extinta RÁDIO TUPY, onde o ápice da sentimentalidade fica registrado no seguinte trecho – “quem será meu novo amor? Porque me traiu deste jeito?” – ainda não consigo lembrar quem foi o grande compositor de tamanha desilusão amorosa... Agora, como se não bastasse este “sucesso musical” embalsamando meus tímpanos, o mais deprimente é ver o senhor na minha frente, balbuciando o refrão da melodia, intercalando entre palavras soltas e sem nexo, hora entre assovios avassaladores que mais parece um punhal cortando a virgem carne de uma ingênua camponesa suíça.
Deveriam existir duas leis... A primeira... SER OBRIGATÓRIO A ATUALIZAÇÃO DO BANCO DE INFORAÇÕES SUJERIDAS AOS USUÁRIOS DE CONSULTÓRIOS MÉDICOS, HOSPITALARES, ODONTOLÓGICOS E SOBRE TUDO PSICOLÓGICOS... Não necessitamos relembrar informações que fizemos questão de deixá-las no passado... Outra dica, ainda sobre esta lei, seria de ter uma vasta coleção de tópicos ou títulos dos periódicos, pois eu não curto ler a MEDÍOCRE SAGA DA REVISTA CAPRICHO, tão pouco ficar BALBUSIANDO OFENSAS AOS RICOS E FAMOSOS DA CARAS, gostaria sim de ser abordado por tópicos mais atuais e que atraiam minha atenção, mas infelizmente não é permitido a exposição de revistas eróticas e também não é de gosto geral da nação folhar periódicos que tenham tópicos de cunho científico...
A segunda lei primordial para a sobrevivência nas salas de espera é a do isolamento acústico, pois não há nada mais aterrorizante que este barulho infernal da broca do dentista torturando nosso emocional... Como se não bastasse esta orquestra sinfônica intercalada entre uma e um aparelho de sucção, temos que ficar ouvindo a programação barata da rádio aberta, com seus radialistas ainda sonolentos – única explicação plausível para tamanho ânimo – com trilhas sonoras que nos remetem à pensamentos vintage. Agora, o principal fator desta segunda lei é: EXPRESSAMENTE PROIBIDO A INSTALAÇÃO DE POSTOS DE LAVAGEM NAS REDONDEZAS DE CENTROS HOSPITALARES, poxa vida, já estamos com o emocional afetado – não é todo dia que matamos uma cárie – e ainda temos que ouvir tamanho afronto musical. Embora, analisando friamente (não estou me referindo ao ar condicionado que está me congelando), a formação desta orquestra musical parece trilha sonora de filme de terror. Analisando o cenário – uma triste e vazia sala de espera de renomada clínica odontológica, entre berros abafados pela proteção acústica, a próxima vítima folheia notícias ultrajantes ao ritmo fúnebre de Amado Batista, enquanto isso, na maca, seu Archetti destrói a arcada dentária de mais uma vítima que agora está sendo embalada em sacos plásticos e guardadas no frigobar de seu consultório...
CHEEEEEEEEEEEGA... POR FAVOR... ESSE CONSULTÓRIO ESTÁ AFETANDO MEUS NEURÔNIOS!!!